Voltar

Insights

Um Dia a Casa Cai?

25 MAIO 2023

Imagem Um Dia a Casa Cai?

Receba insights da Kinea exclusivos diretamente no seu e-mail.
Assine nossa
newsletter.

Ao assinar a newsletter, você aceita receber comunicados da Kinea e concorda com nossa Política de Privacidade.

O mercado imobiliário norte-americano: emprego, juros e a elusiva recessão nos EUA.

No filme “Um Dia a Casa Cai”, estrelado por Tom Hanks, um jovem casal decide comprar uma casa de campo que estava sendo vendida por um preço suspeitosamente baixo. Rapidamente ambos descobrem a razão, enquanto portas desmoronam e o chão se abre com uma banheira despencando.

O quão sólidos são os alicerces do mercado imobiliário norte-americano no momento? Quais as possíveis implicações para o emprego e, consequentemente, juros nos Estados Unidos? É o que abordaremos nesse Kinea Insights.

A importância do mercado imobiliário

Casas são um dos principais ativos nas maiores economias globais. Nos Estados Unidos, o estoque total de ativos residenciais é estimado em $34 trilhões de dólares ou cerca de 160% do PIB, contra 229% do mercado de ações e 224% do mercado de dívida.

Como principal ativo, variações de preço em casas geram enorme efeito no comportamento dos consumidores. Para um proprietário que ainda possua hipoteca, um movimento de 10% no preço de sua casa pode significar que seu patrimônio dobre ou divida pela metade, afetando enormemente sua confiança e propensão ao consumo.

Isso sem falar no efeito que os ciclos de preços têm sobre as construtoras, o que pode gerar correções ou impulsos para o investimento residencial, importante motor – e geralmente antecedente – do ciclo econômico como um todo.

Histórico do mercado imobiliário nos Estados Unidos

Os americanos vivem um longo caso de amor com suas casas. Para sair da grande depressão dos anos 30, quando somente 1/3 dos americanos eram donos de suas casas, o então presidente Franklin Roosevelt criou instituições que facilitaram o financiamento de residências, permitindo hipotecas de 30 anos a taxas fixas. Nascia ali a famosa Fannie Mae, na esteira do histórico New Deal.

O mercado residencial norte-americano protagonizou algumas das maiores crises da história recente dos Estados Unidos. Nos anos 80, as famosas subidas de juros de Paul Volcker, que elevaram a taxa de juros para patamares próximos a 20% ao ano, geraram uma crise nos bancos hipotecários, a conhecida Savings & Loan Crisis, que perdurou por uma década.

Entretanto, o clímax desse mercado deu-se quando ele protagonizou a grande crise financeira de 2008, que levou a uma queda nominal de mais de 26% nos preços das casas e a quebra de diversas instituições financeiras como o Lehman Brothers e a Merrill Lynch.

40 anos de inflação de casas

Um fato pouco conhecido é que o salário real mediano do trabalhador norte-americano não cresce desde os anos 70, só tendo voltado para o nível de 1973 quase 40 anos depois.

A globalização que se iniciou na década de 80 trouxe enormes benefícios para o mundo, principalmente para os trabalhadores do continente Asiático. Entretanto, esses ganhos foram em detrimento do trabalhador mediano norte-americano, o qual, com a enorme oferta de trabalho vinda da Ásia, viu seus ganhos reais serem gradualmente erodidos, em um período de fortes ganhos de produtividade global.

Não obstante, com a queda de juros observada desde os anos 80, o preço de ativos reais apresentou um longo período de apreciação: ações, bonds e casas passaram por um enorme bull market estrutural que elevou enormemente o preço de casas em relação à renda, fato que tornou ainda mais difícil a entrada de milhões de americanos no mercado imobiliário, aumentando o patamar de endividamento e levando inevitavelmente a momentos como a crise de 2008.

Soma-se a isso a consequência da forte recessão que se seguiu ao estouro da bolha imobiliária: 15 anos posteriores de juros praticamente zerados no mundo. Se o trauma foi grande, o remédio foi também o que permitiu a recuperação do setor: num ambiente em que renda fixa não remunerava o investidor e com taxas de hipoteca muito atrativas, vários investidores e pessoas físicas passaram a comprar casas novamente, voltando a elevar os preços.

O mercado imobiliário durante a pandemia

Após a grande crise financeira, o mercado imobiliário sofreu ajustes na forma de restrições ao volume de hipotecas – aumentando a exigência de notas de crédito – e consequente baixo crescimento no estoque de novas residências.

Esse baixo volume de investimentos ao longo de uma década gerou a tempestade perfeita no início da pandemia: com as mudanças no mercado de trabalho e possibilidade de trabalho remoto, milhões de americanos decidiram se realocar de centros urbanos para diferentes regiões ou estados. Taxas de juros zeradas e injeção de renda pelo governo geraram em poucos meses uma demanda equivalente a anos, demanda esta que não podia ser satisfeita pelo estoque presente.

Isso se traduziu em uma forte espiral de preços, com o preço de casas subindo 20% ao ano no início da pandemia.

Um dia a casa cai

O forte aumento da demanda e taxas de juros ainda muito baixas incentivaram a atividade no setor, com novas construções acelerando fortemente e incentivando a geração de empregos.

Um dia a casa cai

A ressaca pós-Covid

Acelerações de preço e atividade dessa magnitude normalmente não são sustentáveis. Tal qual no setor imobiliário, o processo econômico que se seguiu ao fim da pandemia gerou bolhas em alguns ativos e o retorno da inflação para níveis que não eram observados há 40 anos. A resposta dos Bancos Centrais, apesar de atrasada, foi categórica: a mais rápida elevação sincronizada de taxas de juros no mundo como não se via há muito tempo.

continua após a newsletter

Receba insights da Kinea exclusivos diretamente no seu e-mail.
Assine nossa newsletter.

Ao assinar a newsletter, você aceita receber comunicados da Kinea e concorda com nossa Política de Privacidade.

Como consequência, houve forte subida das taxas de hipoteca. A perda de poder de compra com a combinação de juros e preços elevados gerou uma correção rápida nas vendas no 2º semestre de 2022. Observando esse ajuste, as construtoras também reduziram drasticamente os novos projetos de construção, e o investimento residencial subtraiu PIB ao longo de praticamente todos os últimos 4 trimestres.

Um dia a casa cai

A desaceleração do setor e possíveis consequências

Se, em certa medida, esse ajuste ao ciclo de juros foi dentro do esperado, nos encontramos agora em um momento peculiar no setor imobiliário: embora tenha havido um ajuste forte no nível de novas construções, há ainda um volume muito alto de casas em construção, o que tem sustentado o emprego do setor para além do normal nessa fase do ciclo.

Um dia a casa cai

No momento estamos nos debruçando sobre duas perguntas importantes: primeiramente, o que deve acontecer com o nível de emprego na construção quando os projetos em execução forem terminados e caso voltem a convergir para o (atualmente baixo) nível de novas construções?

Essa pergunta é de enorme importância, pois recessões nos Estados Unidos são caracterizadas por aumento na taxa de desemprego e o setor de construção tende a ser um dos primeiros a dar sinais de fraqueza por suas características mais cíclicas.

Um dia a casa cai

Em segundo lugar, já teria a maior parte do impacto das altas de juros atuado sobre o setor imobiliário, ou o pior ainda está por vir? Essa pergunta é de extrema relevância, dado que a sabedoria popular – frisada insistentemente por economistas e formuladores de política – é de que a política monetária atua com defasagens.

Conforme observado, o investimento residencial já subtraiu PIB ao longo de 2022, o que sugere que o impacto tem ocorrido conforme o livro-texto. Por outro lado, o impacto sobre o consumo – a partir da alta de custos de serviço de dívida pelo consumidor – é mais difícil de medir, haja vista que os balanços das famílias adentraram o ciclo de aperto monetário em bases extremamente sólidas.

A julgar pela relação tradicional entre taxas de juros, taxas de hipotecas e demanda, é possível que, num mercado estruturalmente apertado, o fim do ciclo de juros volte a trazer consumidores para demandar casas. O que vai pesar mais agora: taxas de hipotecas quase três vezes mais elevadas que em 2019 ou a perspectiva de que não aumentem mais?

Um dia a casa cai

Vamos monitorar desenvolvimentos nesse mercado ao longo dos próximos meses para que possamos melhor entender as dinâmicas do mercado de trabalho norte-americano e as reais chances, ou não, de uma recessão nos Estados Unidos.

Caso o setor consiga passar o segundo semestre desse ano sem queda de atividade ou preços, sofrendo apenas ajustes marginais no nível de emprego, é possível que a recessão se torne mais elusiva ou branda.

Por outro lado, uma reversão de atividade e continuidade de queda de preços pode levar ondas de choques para outros setores cíclicos da economia, fazendo com que uma recessão de ordem mais severa possa se desenvolver.

Mais importante para o FED, caso o setor se prove mais resiliente e o emprego, consequentemente, mais robusto, isso pode implicar que, dentro de um mercado de trabalho mais apertado, os cortes precificados na curva de juros se mostrem elusivos e, em um cenário mais extremo, pode forçar o banco central a retomar o processo de elevação de juros.

***

Fechamos a carta com uma analogia à música popular brasileira e ao saudoso Vinicius de Moraes: “tem sempre o dia em que a casa cai…”; é uma famosa frase da música Regra Três, composição de Vinicius e Toquinho e, na verdade, uma provocação que Vinicius fez ao fato que Toquinho trocava constantemente de namorada (regra três se refere à substituição no futebol) e que ele poderia sofrer no final.

um dia a casa cai

Estamos sempre à disposição de nossos clientes e parceiros.

Kinea Investimentos

Saiba onde investir nos fundos Kinea

Entre em contato e saiba como adquirir um de nossos fundos.

Receba insights exclusivos

Cadastre-se em nossa newsletter

E fique por dentro do mercado de fundos

Ao se cadastrar você concordar com nossa Política de Privacidade.

Este material foi elaborado pela Kinea (Kinea Investimentos Ltda e Kinea Private Equity Investimentos S.A.), empresa do Grupo Itaú Unibanco. A Kinea não comercializa e nem distribui cotas de fundos de investimentos. Leia o regulamento e demais documentos legais do fundo antes de investir. Os fundos são supervisionados e fiscalizados pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM. Os fundos de condomínio aberto e não destinados a investidores qualificados possuem lâminas de informações essenciais. Estes documentos podem ser consultados no site da CVM http://www.cvm.gov.br/ ou no site dos respectivos Administradores dos fundos. Não há garantia de tratamento tributário de longo prazo para os fundos que informam buscar este tratamento no regulamento. Os fundos da Kinea não são registrados nos Estados Unidos da América sob o Investment Company Act de 1940 ou sob o Securities Act de 1933. Não podem ser oferecidos ou vendidos nos Estados Unidos da América ou em qualquer um de seus territórios, possessões ou áreas sujeitas a sua jurisdição, ou a pessoas que sejam consideradas como U.S. Persons para fins da regulamentação de mercado de capitais norte-americana. Os Fundos de Investimento da Kinea podem apresentar um alto grau de volatilidade e risco. Alguns fundos informam no regulamento que utilizam estratégias com derivativos como parte de sua política de investimento, que da forma que são adotadas, podem resultar em perdas de patrimônio financeiro para seus cotistas superiores ao capital aplicado, obrigando o cotista a aportar recursos adicionais para cobertura do fundo. É recomendada uma avaliação de performance de fundos de investimento em análise de no mínimo 12 meses. A rentabilidade passada não garante a rentabilidade futura e fundos de investimento não são garantidos pela Instituição Administradora, ou por qualquer mecanismo de seguro, ou ainda pelo Fundo Garantidor de Créditos – FGC. Os Fundos de Investimento em Participações são fundos de condomínios fechados em que as cotas somente são resgatadas ao término do prazo de duração do fundo. Esta modalidade concentra a carteira em poucos ativos de baixa liquidez, o que pode resultar em perdas de patrimônio financeiro para seus cotistas que podem superar o capital aplicado, acarretando na obrigatoriedade do cotista aportar recursos adicionais para cobertura do fundo no caso de resultado negativo. Os Fundos de Investimento Imobiliário são fundos de condomínios fechados em que as cotas não são resgatáveis onde os cotistas podem ter dificuldade em alienar suas cotas no mercado secundário. Os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios são fundos de condomínios abertos ou fechados, sendo que: (i) quando condomínios abertos, o resgate das cotas está condicionado à disponibilidade de caixa do fundo; e (ii) quando condomínios fechados, em que as cotas não são resgatáveis, os cotistas podem ter dificuldade em alienar suas cotas no mercado secundário. As opiniões, estimativas e projeções refletem o atual julgamento do responsável pelo seu conteúdo na data de sua divulgação e estão, portanto, sujeitas a alterações sem aviso prévio. As projeções utilizam dados históricos e suposições, de forma que devem ser realizadas as seguintes advertências: (1) Não estão livres de erros; (2) Não é possível garantir que os cenários obtidos venham efetivamente a ocorrer; (3) Não configuram, em nenhuma hipótese, promessa ou garantia de retorno esperado nem de exposição máxima de perda; e (4) Não devem ser utilizadas para embasar nenhum procedimento administrativo perante órgãos fiscalizadores ou reguladores. Este conteúdo é informativo e não constitui nem deve ser interpretado como oferta ou solicitação de compra ou venda de valores mobiliários, instrumento financeiro ou de participação em qualquer estratégia de negócios específica, qualquer que seja a jurisdição. Algumas das informações aqui contidas foram obtidas com base em dados de mercado e de fontes públicas consideradas confiáveis. O Grupo Itaú Unibanco e a Kinea não declaram ou garantem, de forma expressa ou implícita, a integridade, confiabilidade ou exatidão de tais informações e se eximem de qualquer responsabilidade por quaisquer prejuízos, diretos ou indiretos, que venham a decorrer da utilização desse material e de seu conteúdo. Esse material não pode ser reproduzido ou redistribuído para qualquer pessoa, no todo ou em parte, qualquer que seja o propósito, sem o prévio consentimento por escrito da Kinea. Quaisquer outras informações ou esclarecimentos sobre o Fundo poderão ser obtidos com o Administrador e o Gestor, através do e-mail: relacionamento@kinea.com.br