Voltar

Cartas do Gestor

Elvis não está mais aqui

29 JUL 2022

Imagem Elvis não está mais aqui

Receba insights da Kinea exclusivos diretamente no seu e-mail.
Assine nossa
newsletter.

Ao assinar a newsletter, você aceita receber comunicados da Kinea e concorda com nossa Política de Privacidade.

Crédito, China e a quebra do alicerce fiscal brasileiro

Para encerrar os shows do rei do rock, Elvis Presley, uma frase tinha que ser dita ao público, que se recusava a sair do recinto, tamanha a euforia que ele gerava: “Elvis has left the building” (Elvis deixou o prédio). Só então a legião de fãs inconformados aceitava a realidade e deixava o local. E para os que ainda não assistiram ao filme Elvis, estrelado por Austin Butler e Tom Hanks, deixamos nossa recomendação!

De forma análoga, no grande palco da economia global, também nos preocupa que investidores ainda esperem o rápido regresso de Elvis, aqui simbolicamente representado pelas eternas operações de resgate econômico que governos e bancos centrais promoveram por duas décadas na economia global. Nesta carta, abordaremos a desaceleração da atividade global e a falta de espaço que essas autoridades possuem para suavizarem o processo.

CAN’T HELP FALLING INTO RECESSION

Acreditamos que estamos entrando em uma recessão industrial.

Isso, em nossa visão, se deve a quatro fatores. O primeiro é a guerra entre Rússia e Ucrânia, que vem tendo implicações graves para o mercado de energia global, principalmente na dependência europeia do gás natural russo (como já explorado em “O Gambito do Czar”). O segundo é o maior aperto das condições financeiras em 40 anos (também explorado em “Montanha Russa Inflacionária”). O terceiro vem do natural ciclo de estoques, exemplificado na significativa redução de expectativa de lucros pela gigante de varejo americana Walmart. Ao ter que se desfazer destes bens produzidos em excesso, empresas deverão inibir a produção por algum tempo.

O quarto fator ao qual atribuímos a recessão da manufatura é a fraca situação da economia chinesa debilitada pela política de COVID zero, falta de confiança e pelas dificuldades de um ajuste doloroso em um mercado imobiliário inchado. Lá, incorporadoras e construtoras vêm tendo problemas de liquidez, gerando dúvidas sobre a finalização dos projetos iniciados. Assim, com as incertezas associadas aos recentes fechamentos da economia e temendo acabar de mãos vazias, alguns compradores têm suspendido os pagamentos de hipotecas.

Não acreditamos que essa crise chinesa será tão desastrosa como a observada em 2008 nos Estados Unidos. Hoje, os casos de suspensão de pagamentos correspondem a um número baixo de projetos localizados sobretudo em cidades de menor importância. Além disso, crises de crédito são em essência problemas de funding e o governo chinês tem mantido ampla liquidez e vem diminuindo há anos os financiamentos mais especulativos.

Contudo, este problema local está longe de ficar restrito à China. Correspondendo a quase 25% do PIB de lá (considerados efeitos diretos e indiretos), o mercado imobiliário chinês é um dos dois motores principais da economia mundial (junto com o consumidor americano). Este gigante do mercado possui ramificações relevantes em toda economia global. Desta forma, é preocupante que mesmo com o arrefecimento do confinamento do COVID, o setor continue tendo um desempenho fraco.

Esse cenário recessivo industrial tampouco deverá ficar contido apenas neste setor. Acreditamos que ele deve transbordar para o setor de serviços afetando o emprego.

Um sinal de contágio que tem se agravado é o canal do crédito, que já começa a mostrar sinais de estresse. Como observado, a abertura dos spreads se mostra disseminada em diferentes economias e setores.

A consequência de spreads mais altos é que o mercado de crédito corporativo se encontra praticamente fechado para novas emissões em algumas geografias, restringindo acesso ao capital necessário às empresas, que por sua vez, já têm que lidar com níveis mais elevados de juros em seus financiamentos.

Enquanto isso, nosso Elvis parece não estar mais no recinto. Bancos centrais em posições desconfortáveis com o alto nível da inflação, não só vêm normalizando a política monetária, como têm surpreendido o mercado ao entregar altas elevadas e não antecipadas de juros. Foi o caso europeu subindo em 0.5% e o canadense em 1 ponto percentual.

Em algum momento, os Bancos Centrais devem retornar ao palco, mas só depois de um estrago mais forte na economia global.

continua após a newsletter

Receba insights da Kinea exclusivos diretamente no seu e-mail.
Assine nossa newsletter.

Ao assinar a newsletter, você aceita receber comunicados da Kinea e concorda com nossa Política de Privacidade.

***
Seguimos cautelosos em bolsas, comprados em dólar contra moedas europeias e asiáticas e aplicados em juros, antecipando uma queda gradual de inflação.

BRASIL: Não há nada mais permanente do que um programa temporário do governo.

A famosa frase de Milton Friedman reflete perfeitamente o momento fiscal em que vivemos: a temporalidade das recentes medidas fiscais tem sido questionada frente ao debate eleitoral, colocando novamente em xeque o arcabouço fiscal.

Os meses de junho e julho foram marcados pela aprovação de um grande pacote fiscal expansionista pelo governo Bolsonaro. O governo aprovou medidas que incluem a redução do preço da gasolina em 25% e transferências de R$ 30bi para famílias ao longo do segundo semestre. As surpresas com arrecadação estavam levando o país ao maior superávit fiscal em suas contas públicas desde 2012, mas com os anúncios recentes, iremos caminhar para uma situação fiscal próxima de zero. A despeito do resultado ainda positivo, nossa principal âncora, o teto de gastos, tem sofrido ataques colocando em dúvida a sustentabilidade das contas públicas.

Surpresa com arrecadação e PIB nominal tem levado a revisões baixistas na dívida/PIB

O desafio de 2023 é claro: pela regra do teto, as despesas do próximo ano deveriam crescer aproximadamente 7% nominal (inflação esperada desse ano). Uma vez que as despesas obrigatórias têm seu ritmo próprio, cabe às discricionárias fazerem a conta de chegada. Em nossas estimativas, há espaço para aumento da ordem de R$ 20 bilhões nas discricionárias no ano que vem. Com o cobertor curto, caso não promova cortes em outros gastos, o governo terá que escolher entre manter o auxílio de R$ 600 por 6 meses, ou reajustar em de 5% o salário do funcionalismo. Os dois não cabem, muito menos a manutenção do auxílio em R$ 600 por todo o ano. No entanto, independentemente do
resultado das eleições, o próximo governo estará pressionado a manter os gastos “temporários” de 2022, cujo apelo social é enorme.

Nos próximos três meses, todos os olhares estarão voltados para as eleições. A disputa hoje parece se resumir entre dois candidatos e a as pesquisas mostram o ex-presidente Lula à frente do incumbente. Contudo, o recente pacote de medidas anunciado pelo governo deverá ter efeito positivo em sua popularidade. Nas estimativas da própria oposição, o impacto pode ser de até 5 pp na intenção de voto – o risco, naturalmente, é para mais. Em nossa visão, a contínua melhora do emprego, aliado às medidas e ao próprio início da campanha deverão levar a uma eleição bem mais apertada do que sugerem hoje as pesquisas.

No tocante à questão fiscal, nenhum dos dois principais candidatos tem dado sinais claros de como irão enfrentar os desafios que temos pela frente. Mas há importantes divergências nos discursos, particularmente referentes à relação do governo com empresas estatais ou de capital misto.

O ponto de partida fiscal pode ser melhor que o esperado, mas o cenário é bastante desafiador. O país não carece de regras fiscais, mas sim de seu cumprimento. O próximo governo, seja ele quem for, precisa buscar o resgate da credibilidade fiscal, promovendo reformas estruturantes que permitam maior previsibilidade das contas públicas ao longo tempo e assim, promover um crescimento sustentável e saudável da economia brasileira.

***
Seguimos vendidos em inflação implícita, apostando que a inflação de curto prazo seguirá baixa. Como proteção, temos posições tomadas na inclinação da curva de juros. Na bolsa, estamos privilegiando posições relativas e temos posições compradas em elétricas, empresas estatais e
infraestrutura.

Estamos sempre à disposição de nossos clientes e parceiros.

Kinea Investimentos

Saiba onde investir nos fundos Kinea

Entre em contato e saiba como adquirir um de nossos fundos.

Receba insights exclusivos

Cadastre-se em nossa newsletter

E fique por dentro do mercado de fundos

Ao se cadastrar você concordar com nossa Política de Privacidade.

Este material foi elaborado pela Kinea (Kinea Investimentos Ltda e Kinea Private Equity Investimentos S.A.), empresa do Grupo Itaú Unibanco. A Kinea não comercializa e nem distribui cotas de fundos de investimentos. Leia o regulamento e demais documentos legais do fundo antes de investir. Os fundos são supervisionados e fiscalizados pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM. Os fundos de condomínio aberto e não destinados a investidores qualificados possuem lâminas de informações essenciais. Estes documentos podem ser consultados no site da CVM http://www.cvm.gov.br/ ou no site dos respectivos Administradores dos fundos. Não há garantia de tratamento tributário de longo prazo para os fundos que informam buscar este tratamento no regulamento. Os fundos da Kinea não são registrados nos Estados Unidos da América sob o Investment Company Act de 1940 ou sob o Securities Act de 1933. Não podem ser oferecidos ou vendidos nos Estados Unidos da América ou em qualquer um de seus territórios, possessões ou áreas sujeitas a sua jurisdição, ou a pessoas que sejam consideradas como U.S. Persons para fins da regulamentação de mercado de capitais norte-americana. Os Fundos de Investimento da Kinea podem apresentar um alto grau de volatilidade e risco. Alguns fundos informam no regulamento que utilizam estratégias com derivativos como parte de sua política de investimento, que da forma que são adotadas, podem resultar em perdas de patrimônio financeiro para seus cotistas superiores ao capital aplicado, obrigando o cotista a aportar recursos adicionais para cobertura do fundo. É recomendada uma avaliação de performance de fundos de investimento em análise de no mínimo 12 meses. A rentabilidade passada não garante a rentabilidade futura e fundos de investimento não são garantidos pela Instituição Administradora, ou por qualquer mecanismo de seguro, ou ainda pelo Fundo Garantidor de Créditos – FGC. Os Fundos de Investimento em Participações são fundos de condomínios fechados em que as cotas somente são resgatadas ao término do prazo de duração do fundo. Esta modalidade concentra a carteira em poucos ativos de baixa liquidez, o que pode resultar em perdas de patrimônio financeiro para seus cotistas que podem superar o capital aplicado, acarretando na obrigatoriedade do cotista aportar recursos adicionais para cobertura do fundo no caso de resultado negativo. Os Fundos de Investimento Imobiliário são fundos de condomínios fechados em que as cotas não são resgatáveis onde os cotistas podem ter dificuldade em alienar suas cotas no mercado secundário. Os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios são fundos de condomínios abertos ou fechados, sendo que: (i) quando condomínios abertos, o resgate das cotas está condicionado à disponibilidade de caixa do fundo; e (ii) quando condomínios fechados, em que as cotas não são resgatáveis, os cotistas podem ter dificuldade em alienar suas cotas no mercado secundário. As opiniões, estimativas e projeções refletem o atual julgamento do responsável pelo seu conteúdo na data de sua divulgação e estão, portanto, sujeitas a alterações sem aviso prévio. As projeções utilizam dados históricos e suposições, de forma que devem ser realizadas as seguintes advertências: (1) Não estão livres de erros; (2) Não é possível garantir que os cenários obtidos venham efetivamente a ocorrer; (3) Não configuram, em nenhuma hipótese, promessa ou garantia de retorno esperado nem de exposição máxima de perda; e (4) Não devem ser utilizadas para embasar nenhum procedimento administrativo perante órgãos fiscalizadores ou reguladores. Este conteúdo é informativo e não constitui nem deve ser interpretado como oferta ou solicitação de compra ou venda de valores mobiliários, instrumento financeiro ou de participação em qualquer estratégia de negócios específica, qualquer que seja a jurisdição. Algumas das informações aqui contidas foram obtidas com base em dados de mercado e de fontes públicas consideradas confiáveis. O Grupo Itaú Unibanco e a Kinea não declaram ou garantem, de forma expressa ou implícita, a integridade, confiabilidade ou exatidão de tais informações e se eximem de qualquer responsabilidade por quaisquer prejuízos, diretos ou indiretos, que venham a decorrer da utilização desse material e de seu conteúdo. Esse material não pode ser reproduzido ou redistribuído para qualquer pessoa, no todo ou em parte, qualquer que seja o propósito, sem o prévio consentimento por escrito da Kinea. Quaisquer outras informações ou esclarecimentos sobre o Fundo poderão ser obtidos com o Administrador e o Gestor, através do e-mail: relacionamento@kinea.com.br