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A robótica como materialização da I.A.
Em 1950, Isaac Asimov publicou “Eu, Robô”, uma coletânea de contos que transformaria a forma como imaginamos as máquinas inteligentes. Décadas depois, o livro inspiraria o filme estrelado por Will Smith, no qual o avanço dos robôs se entrelaça com dilemas morais, filosóficos e existenciais sobre o papel da tecnologia na humanidade.

Ainda não alcançamos os dilemas de “Eu, Robô”, mas é inegável como os robôs já fazem parte da nossa sociedade. Passamos por quatro revoluções industriais: a mecanização, a eletrificação, a automação e a digitalização. Agora, entramos na era da convergência entre I.A. e robótica, onde acontece de fato a convergência na visão futurística de Asimov.

As quatro revoluções deram às máquinas músculo, energia, reflexos e memória. Já a fase atual adiciona um “cérebro que aprende” ao corpo, deslocando o dilema de Asimov do obedecer cego para a colaboração confiável sob supervisão humana, onde autonomia serve produtividade.
Em um contexto em que o custo do trabalho tem subido com a escassez de mão de obra e o custo dos robôs industriais caído, a robotização se apresenta cada vez mais como uma saída. De acordo com estudo de Acemoglu e Restrepo, um robô a mais a cada mil funcionários reduz os salários em 0,42%, evidenciando que mais robôs significam maior economia de custos de trabalho.


Ao longo das revoluções industriais, a trajetória tecnológica desses equipamentos também evoluiu: saímos de robôs industriais tradicionais, passamos para os atuais robôs colaborativos e móveis e, agora, começamos a entrar na era dos robôs humanoides — direção antecipada por Asimov.
Humanoides são o passo natural dessa evolução: num mundo feito por e para humanos, um robô que anda, vê e manipula pode atuar como “plug‑and‑play” em fábricas, armazéns, serviços e cuidados pessoais. Ainda há inúmeros desafios, faltam destreza nas mãos, percepção robusta, autonomia, baterias melhores e custo viável —, mas avanços rápidos em hardware e I.A. nos aproximam cada vez mais da visão de futuro de “Eu, Robô”.

Como a protagonista Susan Calvin, também faremos uma jornada de “lembranças” pela história da robótica: começaremos nas origens da automação industrial; seguiremos para os robôs de serviço que hoje habitam nosso cotidiano; entraremos na era da fusão entre robótica e I.A., quando a mente digital ganha corpo; e olharemos adiante, para um futuro que hoje parece ficção científica, em que homem e máquina convergem para uma mesma entidade.
A CENTELHA MECÂNICA — O NASCIMENTO DA AUTOMAÇÃO
“A ciência reúne conhecimento mais rápido do que a sociedade reúne sabedoria.”
Isaac Asimov.
A história da automação é, em essência, a história da busca humana por eficiência. Após a primeira revolução industrial, quando as máquinas a vapor entraram nas fábricas, a força física deixou de ser o limite da produção. A partir de então, o crescimento não viria mais do número de trabalhadores, mas da capacidade de multiplicar seu esforço com tecnologia.
George Devol criou a base para o primeiro robô industrial, o Unimate, em 1954. Já em 1961, o protótipo foi instalado na GM para fundição e solda. A demanda foi alta, com a GM instalando mais de 60 unidades no período.

A automação industrial acelerou nas décadas seguintes, só a GM gastou mais de US$ 40 bilhões nos anos 80, boa parte em robotização. Com esse valor, ela poderia ter comprado Toyota e Nissan e elevar sua participação de mercado de 21% para 40%, mas sua opção de investir em robôs levou a apenas ganho de 1 ponto percentual. Fiascos como esse, e a planta de Hamtramck (1988) — com robôs quebrando vidros e “pintando uns aos outros” — expuseram o nível de imaturidade da indústria no Ocidente, e a seguir vimos o início da era da automação asiática.

Nesse período, o Japão assumiu a liderança ao instalar robôs em massa nas indústrias automotiva e eletrônica, elevando a produtividade e chegando a mais de 70% do estoque global de robôs em operação. Em pouco tempo as montadoras japonesas superavam as americanas em custo e qualidade, e em 1992, a Toyota era quase duas vezes mais produtiva que a GM.


A China também avançou no setor. Em 2015, lançou o programa Made in China 2025, em que criou instrumentos financeiros para acelerar a autonomia da tecnologia no país. Nesse programa, a robótica foi um dos dez pilares estratégicos. Com isso, hoje, além de o país instalar mais unidades do que todo o resto do mundo somado, verticalizou sua indústria e conta com quase 60% desses equipamentos de fábricas locais.

Além disso, a China também controla a mineração e processamento de minerais de terras raras, que são primordiais para a produção de diversos componentes na produção dos robôs, além de outros setores estratégicos como semicondutores em geral e defesa. Como consequência da escala e verticalização, o preço médio de um robô chinês atualmente custa menos da metade que nos EUA. O resultado é um país que deixou de ser importador de robôs e caminha para a autossuficiência da tecnologia.

A história da robótica é inevitavelmente ligada aos robôs industriais, marcados por processos repetitivos e especializados. Mas, de braços fixos e programados para tarefas únicas, avançamos para robôs colaborativos que trabalham ao lado de humanos e plataformas móveis que navegam pelo ambiente. Agora, entramos em um novo estágio: robôs humanoides.

Nas próximas seções, exploraremos os diferentes tipos de robôs e o avanço dessa tecnologia.
SERVOS OBEDIENTES — OS ROBÔS INDUSTRIAIS TRADICIONAIS
“Os robôs eram máquinas perfeitas porque não pensavam – apenas executavam.”
Isaac Asimov.
A base instalada global ainda é dominada por robôs industriais tradicionais: máquinas de estrutura fixa, precisas e eficientes, voltadas para soldagem, pintura, corte e montagem. Eles continuam essenciais, e os dados da China reforçam a urgência de o Ocidente recuperar terreno em automação.

Nos ramos pioneiros em automação (automotivo, eletrônico e metalúrgico), a robotização já atingiu níveis próximos ao limite técnico, e o crescimento desse mercado tende a ser moderado daqui para frente. O mercado já é consolidado, dominado por gigantes como ABB, Fanuc, Yaskawa e Kuka, que respondem pela maior parte dos mais de 4,5 milhões de robôs industriais instalados no mundo.


Com o espaço industrial já maduro, o próximo passo da robótica se deslocou para novos contextos de aplicação – fora das linhas de montagem tradicionais e até mesmo fora das fábricas. Essa transição marca o início da era dos robôs colaborativos e móveis.
SERVOS INTELIGENTES — OS ROBÔS AO NOSSO LADO
“A função primordial de um robô é servir ao homem, mas é o homem quem define o que é servir”
Isaac Asimov.
Diferentemente dos robôs industriais tradicionais, os robôs móveis e colaborativos se destacam pela flexibilidade e interação com humanos, permitindo que atuem em áreas antes inacessíveis à automação. Eles executam funções diversas – de tarefas mais flexíveis dentro da fábrica, até operações complexas em centros de distribuição, cidades, hospitais e residências.

O escopo de atividades desses robôs é muito amplo, como montagem leve, inspeção de qualidade, embalagem e paletização de baixo peso. Projetados para operar com segurança ao lado de pessoas, são muito eficientes em lotes pequenos e alta variedade, com reprogramação rápida e integração simples.

A medicina é outro segmento relevante para robôs colaborativos. Equipamentos como o Da Vinci da Intuitive Surgical, por exemplo, funcionam como uma mão mais precisa para cirurgias minimamente invasivas e têm tido alta demanda. Outro exemplo são os robôs de reabilitação e fisioterapia, que movimentam membros humanos com segurança e sensores de força.

Nos robôs de serviço móveis, a mobilidade aliada a I.A. tem ampliado o escopo de uso. A Amazon, por exemplo, opera mais de 1 milhão de robôs que movimentam e armazenam mercadorias com alta eficiência. Segundo a empresa, essa estratégia elevou a produtividade dos armazéns em cerca de 45% e dobrou a densidade de armazenamento, com robôs que empilham e desempilham itens rapidamente.

Para garantir essa maior produtividade, a Amazon foi aumentando gradualmente a proporção de robôs para funcionários nos armazéns: de 1 robô para cada 5 funcionários em 2017 para 1 robô a cada 1,2 funcionário em 2025.
Além disso, em algumas cidades, principalmente na Ásia, já podemos ver robôs guardas de trânsito, robôs que realizam entregas, que respondem informações em estações de metrô, e que servem pratos em restaurantes.

Toda essa gama de aplicações tem levado à rápida adoção desses equipamentos, que, diferentemente dos robôs industriais, ainda parecem estar longe de sua maturidade.

Acreditamos que essa alta demanda deve criar um ciclo virtuoso de escala e melhoria de softwares favorecendo players capazes de integrar sensores, controle e integração de navegação proprietários. Por isso, continuaremos aprofundando a pesquisa nesse segmento de empresas líderes de robótica de serviço.
Além disso, é importante entender que um dos principais fatores para um robô ser mais flexível e inteligente é o software. As fábricas automatizadas têm softwares em diversas camadas, desde o ERP, até chegar no nível do robô. Atualmente, esse ecossistema é bastante fragmentado, em cada uma dessas camadas costuma-se ter fornecedores diferentes, que utilizam linguagens diferentes.

Nos robôs de serviços, os softwares são altamente integrados e possuem latência mínima. Imagine o caos que seria o centro de distribuição da Amazon se cada robô tivesse um pequeno atraso na comunicação. Por isso, além do hardware, um grande campo de oportunidade está no software de controle e integração robótica – e, sobretudo, na fusão com I.A., capaz de aprimorar a tomada de decisão desses robôs.
A MENTE NAS ENGRENAGENS — O ENCONTRO COM A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
“O verdadeiro perigo não está nos robôs que desobedecem, mas nos que obedecem demais”.
Isaac Asimov.
A materialização da I.A. (embodiment) é a etapa que permite o robô agir como um corpo, captando fótons (câmeras, LiDAR) e átomos (força, contato). Sem isso, a inteligência fica “desancorada”: sabe interpretar textos e imagens, mas não abre uma porta, não pega um saco plástico escorregadio e não aperta precisamente uma peça frágil. Grande parte do valor econômico está justamente em tarefas como essas, em que percepção, ação e feedback se fecham em um ciclo contínuo.
Treinar apenas no virtual tem limites claros: simuladores simplificam superfícies; e a iluminação real traz reflexos e transparências que confundem.
O caminho vencedor une virtual e real: simulação com bons modelos aliados a captação de dados reais contínuos, apoiados por modelos de visão‑linguagem‑ação. Veículos autônomos ilustram bem esse caminho: sensores (câmeras, LiDAR, radar) e dinâmica real (pneus, atrito, clima) exigem dados reais para fechar a lacuna que a simulação não cobre; é nessa intersecção que a I.A. ganha corpo (embodiment) deixa de apenas “ver” e passa a agir com segurança e valor.


Em embodied AI, portanto, o software é a base de tudo. Com gêmeos digitais e simulações, é possível testar milhares de cenários e aprimorar trajetórias, cortando risco, custo e tempo. Sincronizados com dados reais, esses modelos permitem monitoramento preditivo — facilitando o aprendizado do robô.
Além disso, a disputa não é só por melhores robôs, mas pela melhor integração: quem unir hardware, software e dados — com segurança, manutenção e integração fluida ao chão de fábrica — ganhará o jogo. É essa junção que deverá levar, finalmente, humanoides e alguns robôs de serviço para atuação no mundo real.
A NVIDIA é um dos principais players nesse segmento, com o ecossistema de software para simulação e treinamento (Omniverse e Isaac), e chips para computação embarcada (Jetson), a companhia está bem posicionada para capturar essa tendência de integração entre software e hardware em robótica.

Esse segmento é ainda apenas 1% da receita da Nvidia, mas com enorme potencial de crescimento. Jensen Huang, CEO da Nvidia, afirmou em um evento recente que a robótica é uma oportunidade de trilhões de dólares. Vemos o embodiment da I.A. como uma das principais oportunidades da próxima década.
O MUNDO PÓS-HUMANO — A ERA DO SCI-FI REAL
“A ficção científica sempre falou do futuro; o futuro, agora, fala por si.”
Isaac Asimov.
A grande vantagem dos robôs humanoides é ser o embodiment da I.A. sem exigir mudanças na infraestrutura atual. A proposta é simples: atender lacunas de mão de obra e ampliar a automação em logística interna, manufatura leve, inspeção e suporte à manutenção.

Atualmente, a internet tem vários vídeos de humanoides que parecem ter saído de um filme de ficção científica – andando, servindo bebidas ou interagindo com pessoas. À primeira vista, podemos imaginar que já alcançamos um nível avançado de autonomia, mas na prática, a maioria desses robôs ainda está longe disso: eles ainda costumam ser controlados remotamente ou programados previamente para tarefas específicas.
A dificuldade aqui é até maior que a de um veículo autônomo, pois além de captar e processar milhões de dados do ambiente e reagir a eles, o humanoide tem mais graus de liberdade. Mas, dezenas de empresas estão na corrida para superar esses desafios e criar o primeiro humanoide com autonomia.
Para ter uma ideia do tamanho dessa oportunidade, dividimos em duas aplicações principais: industrial e de serviços. No segmento industrial, de acordo com a IFR, há 150 milhões de trabalhadores. Já em serviços, projeções da McKinsey indicam haver 185 milhões de funcionários em funções passíveis de automação — excluindo ocupações como psicólogos, artistas e gestores de pessoas.
Com base nisso e considerando uma queda do preço médio de US$ 80 mil atualmente para algo próximo de US$ 30 mil nos próximos 10 anos, e uma substituição de 10% e 5% dos funcionários em industrial e serviços, respectivamente, chegamos em um mercado de 800 bilhões de dólares.

As estimativas ainda variam muito, dado o estágio inicial da tecnologia. Há estimativas de até 5 trilhões de dólares, quando se considera 1 humanoide para cada 2 pessoas. Esse é um cenário possível, mas fato é que mesmo adotando estimativas mais comedidas, a oportunidade já seria enorme, embora esteja distante.
Ainda persistem desafios, como destreza das mãos, autonomia energética, segurança, custo de fabricação e integração em ambientes dinâmicos. No entanto, é inegável a rápida evolução que estes robôs têm tido nos últimos anos o que nos faz acreditar que, finalmente, os robôs humanoides podem se integrar à nossa sociedade.
HOMO MACHINA — A FUSÃO DO HOMEM E DA MÁQUINA
“Entre o homem e o robô, não há abismo – apenas um espelho”
Isaac Asimov.
Após superar esses desafios na indústria de humanoides, ainda existe uma nova barreira: a fusão homem-máquina. Elon Musk acredita que, quando a I.A. alcançar níveis sobre-humanos (a chamada AGI – Artificial General Intelligence), o único caminho para o ser humano não ficar obsoleto será a sua integração direta com a máquina.
A Synchron, uma empresa australiana, já deu um passo importante na conexão entre cérebro e máquina: desenvolveu o Stentrode, um implante cerebral que permite pessoas com paralisia controlarem computadores com o pensamento. Embora ainda não comercializados, eles já estão em fase de teste em 10 pacientes. É um campo bastante sensível, pois esses dispositivos exigem altos padrões de segurança.

Enquanto isso, a Neuralink, empresa comandada por Elon Musk, também desenvolve essas interfaces cérebro-computador, mas com uma rota mais ambiciosa: o auxílio a pessoas com deficiência seria apenas o estágio inicial, mas o estágio final seria a contínua integração entre cérebro e máquina, iniciando a era da extensão digital da vida humana.
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O Optimus, robô humanoide da Tesla, é outro pilar desse grande plano de Musk. Ele não seria apenas um produto de manufatura e serviços qualquer —Musk vê o Optimus como um “trabalhador universal”, que pode substituir grande parte do trabalho manual, enquanto os humanos desfrutam das suas novas habilidades após a interface direta do cérebro com as máquinas.
Em suma, a robótica permitirá a materialização da I.A e pode ser que, no futuro, a mente humana não apenas comande as máquinas – mas se expanda através delas.
No plano econômico, a robótica já deixou de ser promessa para tornar-se infraestrutura do crescimento. Ela remodela fábricas, reduz custos marginais, redefine cadeias logísticas e amplia a fronteira de produtividade global. Em conjunto com a I.A., inaugura uma nova revolução industrial — uma em que o capital físico se funde ao cognitivo, e a eficiência passa a ser não apenas mecânica, mas também mental.
Assim como nas histórias de Asimov, o verdadeiro dilema não está nas máquinas, e sim nos humanos que as programam. O que faremos com tanto poder produtivo? Que tipo de sociedade queremos construir quando o trabalho e o pensamento puderem ser replicados por um código?
A robótica é o espelho do nosso tempo: uma fusão entre engenho e ambição, razão e risco. E talvez o maior teste da humanidade não seja criar máquinas inteligentes — mas provar que ainda somos mais sábios do que elas.
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