Voltar

Reflexões

O objeto imóvel contra a força irresistível

21 JUN 2022

Imagem O objeto imóvel contra a força irresistível

Receba insights da Kinea exclusivos diretamente no seu e-mail.
Assine nossa
newsletter.

Ao assinar a newsletter, você aceita receber comunicados da Kinea e concorda com nossa Política de Privacidade.

A economia Brasileira irá se curvar à força dos juros?

O que acontecerá ao longo dos próximos meses quando a força irresistível dos elevados patamares de juros na economia Brasileira se encontrar com a até então sequência de surpresas positivas no campo econômico que temos observado recentemente?

Não é só de surpresas inflacionárias que vive o Brasil. Após anos de resultados mais fracos que o esperado, o PIB de 2022 está caminhando para um número maior que o projetado em dezembro, no que pode ser a maior surpresa positiva em mais de dez anos.

Com o desempenho melhor que o esperado, a dúvida que surge é: o que podemos esperar pela frente? A economia está mais resiliente ou apenas estamos postergando a desaceleração?

Mas, antes de discutirmos o futuro, é preciso primeiro entendermos o passado. Por que a atividade está melhor na margem? Na nossa visão, fatores pontuais como maior injeção de renda, uso de poupança e a própria reabertura ainda em curso têm contrabalanceado o efeito já contracionista do aumento de juros. A ausência desses fatores a partir do segundo semestre e os efeitos defasados do aperto monetário aliados à desaceleração global levarão a economia brasileira à estagnação.

O que explica o melhor crescimento até agora?

Política monetária estaria menos potente? É uma dúvida natural, que surge após um dos maiores apertos de juros, pouco visto na história do país, não se traduzir automaticamente em atividade mais fraca.

Acreditamos que não. Com menor intervenção do governo em bancos públicos, a política monetária tem hoje maior potência que no passado – e já vemos seus efeitos nos aumentos de taxa de juros para o tomador final.

Existe uma questão de ponto de partida e timing: em nossas estimativas, a política monetária se tornou restritiva de fato – ou seja, passou a contribuir negativamente para o crescimento do PIB – apenas no final do ano passado. E, com o aperto ainda em curso, cada vez mais esse vetor atuará negativamente na economia.

O ponto é que outros vetores têm atuado na direção contrária.

Nos últimos trimestres, vimos o consumo das famílias se sustentar em um patamar elevado de crescimento. Com a renda real em queda desde meados de 2020, o que explica esse consumo é, por definição, a queda na taxa da poupança das famílias e o uso da poupança acumulada.  Pela metodologia do Banco Central, estima-se que a poupança acumulada pelas famílias na pandemia chegou a atingir o pico de 5,4% do PIB no 2º trimestre de 2021, e, desde então, vem amortecendo a corrosão da renda causada pela inflação e fim do auxílio emergencial na segunda metade de 2021.

continua após a newsletter

Receba insights da Kinea exclusivos diretamente no seu e-mail.
Assine nossa newsletter.

Ao assinar a newsletter, você aceita receber comunicados da Kinea e concorda com nossa Política de Privacidade.

Particularmente no começo do ano, voltamos a ver uma aceleração da renda real das famílias que se traduziu em maior consumo. Algo que vemos como pontual: reflexo do aumento nos valores pagos do Auxílio Brasil frente ao antigo Bolsa Família, reajuste de salário-mínimo e o pagamento atrasado do abono salarial. Essa injeção ajudou a recompor as perdas de renda real observadas no passado, elevando a compra de itens como alimentos e bens de uso pessoal.

juros

Além do uso da poupança acumulada na pandemia e dos reajustes do começo do ano, o próprio processo de reabertura ainda em curso tem sido um vento favorável e contribuído positivamente para o emprego e consumo. O fim do uso obrigatório de máscaras em março teve papel crucial na aceleração de serviços prestados às famílias, como acomodação, alimentação fora e transportes aéreos. Com a sensação de que a pandemia finalmente está ficando para trás, os consumidores buscam melhor equilíbrio de sua cesta de consumo em setores a que ficaram restritos nos últimos anos, fazendo a roda da economia voltar a girar.

Por fim, mas não menos importante, temos o crédito azeitando as engrenagens do processo. Normalmente endógeno à atividade, vemos uma aceleração relevante nas carteiras de crédito pessoal não consignado e de cartão de crédito. Este último parece refletir a expansão do plástico como meio de pagamento, seja via aumento de compras online, maior oferta via fintechs, ou até mesmo o receio de usar notas quando o vírus trazia maior preocupação. Vale notar no gráfico, contudo, a aceleração de linhas emergenciais, como cheque especial e rotativo do cartão de crédito na ponta – sinal de alerta que irá se traduzir em maior cautela por parte dos bancos nos próximos meses.

Indicadores mais tempestivos sugerem manutenção de um ritmo elevado de crescimento no curto prazo.  Abaixo observamos a evolução do indicador PMI de serviços, que está em sua máxima dos últimos 15 anos e aponta para bom desempenho do setor terciário nos próximos meses.

juros

Fato é que o segundo trimestre deve mostrar uma atividade ainda resiliente, mas novamente por fatores pontuais. O anúncio do governo de permitir o saque de recursos do FGTS e antecipação do pagamento do 13º de pensionistas do INSS no período deverá contribuir pelo menos com 0,3 pp para o crescimento do PIB do trimestre, sem contar com os potenciais cortes de impostos. E, com isso, antecipa e concentra em um curto período um consumo que ocorreria de forma mais gradual.

…mas a força irresistível dos juros deve eventualmente frear a economia

Olhando para frente, o cenário é bastante nebuloso. Os vetores de sustentação do crescimento observados até agora deixarão de atuar no segundo semestre, já os ventos contrários se farão cada vez mais presentes: esperamos recessão no 2º semestre e zero de crescimento para 2023.

Do lado da renda, no ritmo atual, o excedente de poupança será consumido rapidamente. Na ótica do crédito, vemos indicadores que trazem sinais de alerta para qualquer credor: o comprometimento de renda das famílias está nas máximas da série histórica, assim como o endividamento. Algumas famílias possivelmente serão forçadas à desalavancagem, enquanto para outras o processo deve ser mais gradual. De uma forma ou de outra, teremos ao longo dos próximos trimestres a normalização da taxa da poupança das famílias.

juros

Com o fim do processo de reabertura da economia, fim da poupança extra acumulada, sem ajuda dos recursos do FTGS e transferências de renda, o vetor negativo de política monetária será mais predominante, levando a economia para contração.

Não bastassem os desafios internos, o ciclo da economia global está virando. A retirada de estímulos fiscais e monetários tem gerado aperto de condições financeiras que levará à desaceleração global, com o risco de termos uma recessão no setor industrial.

Embora não sejamos um país muito aberto ao comércio internacional, o Brasil não é uma ilha e certamente sofrerá com os ventos contrários advindos de fora. Ainda, diferente de outros ciclos, em que contamos com o bom desempenho da economia chinesa para contrabalancear a desaceleração no ocidente, dessa vez a terra do dragão tem seus próprios dilemas e limites – o que torna o cenário ainda mais desafiador.

Em suma, a surpresa com o crescimento deste ano decorre de fatores não estruturais e vemos razão para apostar na desaceleração pronunciada da atividade a partir do 2º semestre.

***

Estamos à disposição de nossos clientes e parceiros.

Kinea Investimentos

 

Saiba onde investir nos fundos Kinea

Entre em contato e saiba como adquirir um de nossos fundos.

Receba insights exclusivos

Cadastre-se em nossa newsletter

E fique por dentro do mercado de fundos

Ao se cadastrar você concordar com nossa Política de Privacidade.

Este material foi elaborado pela Kinea (Kinea Investimentos Ltda e Kinea Private Equity Investimentos S.A.), empresa do Grupo Itaú Unibanco. A Kinea não comercializa e nem distribui cotas de fundos de investimentos. Leia o regulamento e demais documentos legais do fundo antes de investir. Os fundos são supervisionados e fiscalizados pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM. Os fundos de condomínio aberto e não destinados a investidores qualificados possuem lâminas de informações essenciais. Estes documentos podem ser consultados no site da CVM http://www.cvm.gov.br/ ou no site dos respectivos Administradores dos fundos. Não há garantia de tratamento tributário de longo prazo para os fundos que informam buscar este tratamento no regulamento. Os fundos da Kinea não são registrados nos Estados Unidos da América sob o Investment Company Act de 1940 ou sob o Securities Act de 1933. Não podem ser oferecidos ou vendidos nos Estados Unidos da América ou em qualquer um de seus territórios, possessões ou áreas sujeitas a sua jurisdição, ou a pessoas que sejam consideradas como U.S. Persons para fins da regulamentação de mercado de capitais norte-americana. Os Fundos de Investimento da Kinea podem apresentar um alto grau de volatilidade e risco. Alguns fundos informam no regulamento que utilizam estratégias com derivativos como parte de sua política de investimento, que da forma que são adotadas, podem resultar em perdas de patrimônio financeiro para seus cotistas superiores ao capital aplicado, obrigando o cotista a aportar recursos adicionais para cobertura do fundo. É recomendada uma avaliação de performance de fundos de investimento em análise de no mínimo 12 meses. A rentabilidade passada não garante a rentabilidade futura e fundos de investimento não são garantidos pela Instituição Administradora, ou por qualquer mecanismo de seguro, ou ainda pelo Fundo Garantidor de Créditos – FGC. Os Fundos de Investimento em Participações são fundos de condomínios fechados em que as cotas somente são resgatadas ao término do prazo de duração do fundo. Esta modalidade concentra a carteira em poucos ativos de baixa liquidez, o que pode resultar em perdas de patrimônio financeiro para seus cotistas que podem superar o capital aplicado, acarretando na obrigatoriedade do cotista aportar recursos adicionais para cobertura do fundo no caso de resultado negativo. Os Fundos de Investimento Imobiliário são fundos de condomínios fechados em que as cotas não são resgatáveis onde os cotistas podem ter dificuldade em alienar suas cotas no mercado secundário. Os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios são fundos de condomínios abertos ou fechados, sendo que: (i) quando condomínios abertos, o resgate das cotas está condicionado à disponibilidade de caixa do fundo; e (ii) quando condomínios fechados, em que as cotas não são resgatáveis, os cotistas podem ter dificuldade em alienar suas cotas no mercado secundário. As opiniões, estimativas e projeções refletem o atual julgamento do responsável pelo seu conteúdo na data de sua divulgação e estão, portanto, sujeitas a alterações sem aviso prévio. As projeções utilizam dados históricos e suposições, de forma que devem ser realizadas as seguintes advertências: (1) Não estão livres de erros; (2) Não é possível garantir que os cenários obtidos venham efetivamente a ocorrer; (3) Não configuram, em nenhuma hipótese, promessa ou garantia de retorno esperado nem de exposição máxima de perda; e (4) Não devem ser utilizadas para embasar nenhum procedimento administrativo perante órgãos fiscalizadores ou reguladores. Este conteúdo é informativo e não constitui nem deve ser interpretado como oferta ou solicitação de compra ou venda de valores mobiliários, instrumento financeiro ou de participação em qualquer estratégia de negócios específica, qualquer que seja a jurisdição. Algumas das informações aqui contidas foram obtidas com base em dados de mercado e de fontes públicas consideradas confiáveis. O Grupo Itaú Unibanco e a Kinea não declaram ou garantem, de forma expressa ou implícita, a integridade, confiabilidade ou exatidão de tais informações e se eximem de qualquer responsabilidade por quaisquer prejuízos, diretos ou indiretos, que venham a decorrer da utilização desse material e de seu conteúdo. Esse material não pode ser reproduzido ou redistribuído para qualquer pessoa, no todo ou em parte, qualquer que seja o propósito, sem o prévio consentimento por escrito da Kinea. Quaisquer outras informações ou esclarecimentos sobre o Fundo poderão ser obtidos com o Administrador e o Gestor, através do e-mail: relacionamento@kinea.com.br